Em parceria com a UFMG, Betim dará início a 4ª etapa da pesquisa sobre circulação do coronavírus na cidade

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Divulgação/PMB

A Prefeitura de Betim vai iniciar, em abril, a 4ª etapa da pesquisa científica “Soroprevalência para SARS-CoV-2”. O estudo, que é realizado em parceria com o  Laboratório de Biologia Integrativa do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) teve início em maio de 2020. Serão avaliadas, na próxima etapa, 240 amostras coletadas de residentes da cidade que testaram positivo para covid-19 e que foram atendidos pela Rede SUS do município. As análises serão feitas ao longo dos meses de abril e maio.

A coordenadora da pesquisa, Ana Valesca Fernandes, explica que o estudo pretende avaliar o processo de entrada e dispersão do coronavírus em Betim e que, até o momento, 6.480 testes foram realizados em 3.240 residentes da cidade. Ela pontua que foram usados o teste rápido, que avalia se a pessoa já foi infectada com o vírus, e o swab RT-qPCR, que mostra se a pessoa estava infectada no momento da testagem. “Os resultados mostram o início da circulação do vírus no município; a estimativa da prevalência, ou seja, a extensão da doença na população; os sintomas mais comuns; os grupos de risco da forma grave da doença e as características da população afetada. Depois de identificarmos que o vírus já estava disseminado em todo o município, foi iniciado o sequenciamento viral para descrever as linhagens que circulavam aqui”, conclui.

De acordo com um dos coordenadores do processo de sequenciamento genético da pesquisa, Renan Pedra de Souza e Renato Santana de Aguiar, foram analisadas 35 amostras  coletadas entre junho e julho de 2020. Elas foram identificadas em duas linhagens, sendo 18 da B.1.1.28 e 17 da B.1.1.33. Souza afirma ainda que outro estudo científico em andamento na UFMG permitiu identificar, também, a circulação da variante P.2 (B.1.1.28.2) em Betim, a partir da análise de uma mostra coletada no município. “A P.2 é uma linhagem descrita em dezembro de 2020 no Rio de Janeiro, com datação de julho do mesmo ano por membros da Rede Corona-ÔmicaBR-MCTI”, informa.

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Diante desses resultados, o objetivo da próxima etapa da pesquisa será descrever a circulação de novas variantes importantes como a de Manaus e a do Rio de Janeiro. Segundo o secretário adjunto de Saúde, Augusto Viana, os resultados do estudo continuarão norteando a organização da rede de atenção à saúde e as políticas públicas do município para o enfrentamento à pandemia da covid-19.

Para Viana, a realização da pesquisa tem sido um dos diferenciais da prefeitura diante desse fenômeno epidemiológico. “Assim que a pandemia se instalou, em março de 2020, promovemos várias ações de contenção da doença, como a restrição do funcionamento do comércio, o uso obrigatório de máscara, blitzen educativas, dentre várias outras. Ainda em maio de 2020, iniciamos esse estudo inédito em sua modalidade, que tem sido fundamental para orientar as ações de enfrentamento à covid-19 e nos permitir salvar vidas”, destaca.

Localização atrai pessoas e o vírus

O secretário adjunto pontua que o acompanhamento da dispersão do vírus e de suas variantes (Manaus P.1 e Rio de Janeiro P.2) é essencial, tendo em vista que estas são mais transmissíveis que as demais. Viana ressalta o fato de Betim ter localização estratégica em razão da extensa malha rodoviária (BR-381, BR-262 e Via Expressa) que corta a cidade e que, por isso, registra alta circulação de pessoas. “Betim exerce influência em municípios menores por possuir oferta diferenciada de bens e serviços e por estar na região metropolitana e na zona metalúrgica. Além disso, Betim recebe pessoas de grandes cidades, como Belo Horizonte e São Paulo. Essa conexão entre metrópoles e cidades menores facilita a transmissão da doença à medida que muitas pessoas percorrem essa rede”, explica.

A melhor defesa

Renan Souza alerta para o fato de que cada vez que o vírus se multiplica e se dissemina, ele sofre mutações. Dessa forma, é necessário reduzir ao máximo sua circulação, sendo as medidas de biossegurança a solução para conter essa dispersão. São elas uso de máscaras, distanciamento social, práticas de higiene pessoal e vacinação. “Todas essas medidas são eficazes contra as linhagens circulantes e somente por meio delas a pandemia será controlada”. O pesquisador esclarece ainda que as vacinas disponíveis protegem contra essas variantes do coronavírus, pois são mutações de um mesmo vírus. “Não há dados indicando que essas variantes alteram a eficácia das vacinas distribuídas no Brasil”.

A pesquisa

A “Soroprevalência para SARS-CoV-2 em residentes de Betim, MG, 2020” segue o protocolo da Organização Mundial de Saúde e está sendo desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisa da Escola de Saúde Pública de Betim, ligada à Secretaria Municipal de Saúde, em parceria com a UFMG. O trabalho está sendo realizado por servidores da Secretaria Municipal de Saúde e da Superintendência de Tecnologia da Informação, sob a coordenação da doutora Ana Valesca Fernandes, enfermeira da rede SUS Betim.

O mapeamento do município foi feito pelo setor de geoprocessamento da Superintendência de Tecnologia da Informação, que o dividiu em 36 áreas, com base nos setores censitários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a densidade demográfica. A amostragem de 1.080 moradores, por etapa, foi definida pela Secretaria de Saúde, com base na população do município, que foi dividida por sexo e faixa etária para cada uma das etapas do trabalho.

Fique por dentro!

Linhagens do vírus

O que é uma linhagem viral?

Sabe-se que o coronavírus muda um pouco toda vez que ele se multiplica. Essas mudanças são chamadas de mutações. O acúmulo de mutações cria uma nova linhagem, logo uma linhagem (ou uma variante) é um coronavírus um pouco diferente.

Todas as novas linhagens virais são mais perigosas?

Não. A formação de novas linhagens é um processo natural, que gera, não necessariamente, variantes mais letais. No fim do ano passado foi identificada a primeira linhagem chamada de “variante de atenção”, que foi a do Reino Unido (B.1.1.7). Sabe-se que esta é mais transmissível que as demais, ou seja, um indivíduo infectado com ela tem mais chance de contaminar outra pessoa.

 

Temos “variantes de atenção” no Brasil?

Sim. Até o momento já foram detectadas a variante do Reino Unido (B.1.1.7), a de Manaus (P.1) e a do Rio de Janeiro (P.2). As três são mais transmissíveis. Não há dados indicando que essas variantes alteram a eficácia das vacinas distribuídas no Brasil ou que causem mais mortes. Sabe-se que tanto a de Manaus (P.1) quanto a do Rio de Janeiro (P.2) são descendentes da B.1.1.28, que era uma das linhagens típicas do Brasil em 2020.

 

Quais destas variantes já foram encontradas em Betim?

A do Reino Unido (B.1.1.7) e a do Rio de Janeiro (P.2) foram reportadas pelo grupo da UFMG e a P.1 pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Não há dados sobre a frequência dessas linhagens no município.